quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Diz tudo que se pode querer expressar. Ah... poemas! Quanta verdade!

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Ferreira Gullar

Nem uma palavra se desperdiça. Isso é poesia. Ainda: sincreticamente - em som, verbo e ritmo - traduz o intraduzível!! Impressionantemente maravilha das maravilhas. Viva Ferreira Gullar! Hoje. Sempre.

PS:  Se alguém porventura, ao acessar este blog, procurar aulinhas de Português, não se assuste, não. Elas virão, ao sabor do vento. Isso significa: quando dúvidas me forem enviadas para pesquisa, ou por pessoas , ou mesmo no meio de meu trabalho de  leitora e escrevente!

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